sábado, 30 de outubro de 2010

Encontro com o ministro Juca Ferreira e confirmação de apoio ao Projeto Peshê Shãwãdawa

Especial - Cultura Indígena 2
Centro Yorenka Ãtame, concretização do sonho de um Ashaninka
No primeiro dia de estadia no Acre, logo após a solenidade de lançamento oficial do Centro da Cultura da Floresta, no Palácio Rio Branco, a comitiva do Ministério da Cultura seguiu para o pequeno município de Marechal Thaumaturgo, onde fica o Centro Yorenka Ãtame.
O ministro Juca Ferreira viajou a convite da família Pyanko, da comunidade dos Ashaninkas: os irmãos Francisco, Benki, Isaac e Moysés. Após almoço em Rio Branco, a comitiva voou por duas horas e meia até a cidade e, para chegar à comunidade, seguiu até a margem direita do rio Juruá em pequenos barcos.
O Centro Yorenka Ãtame, que também abrigará as futuras instalações do Centro da Cultura da Floresta, foi inaugurado em 2007. Sua criação se deve a uma “visão” que Samuel Pyanko, o já falecido avô dos anfitriões, teve quando eles ainda nem eram nascidos. Desse “sonho” ele entendeu a necessidade de unir índios e não-índios para lutar pela preservação daquele que é um grande bem comum a todos: a floresta amazônica.
Na década de 70, a luta entre seringueiros e índios era, literalmente, sangrenta. Os seringueiros tinham interesse nas terras e nos conhecimentos dos indígenas, e esses, por sua vez, não compreendiam as intenções dos brancos, justamente porque não conseguiam compreender sua cultura. Foi então que Samuel casou um de seus filhos, Antônio, com uma filha de seringueiros, Francisca Oliveira da Silva, mais conhecida como Dona Piti. Dessa forma, ela ajudaria a comunidade Ashaninka a entender a cultura do homem branco, para, então, começar um diálogo entre os povos.
Francisca, que teve sete filhos com Antônio – Francisco, Moysés, Isaac, Benki, Bebito, Dora e Alexandrina –, passou a sentir na pele o sofrimento de sua família. Ela ensinou a língua portuguesa aos filhos e, junto ao sogro e ao marido, orientou todos para o cumprimento dessa missão. Francisco, o mais velho, aos 12 anos já começou a negociar e penetrar o universo e a cultura dos não-índios. Hoje ele vive em Rio Branco e trabalha para o Governo do Estado do Acre como secretário para assuntos indígenas. Seu irmão mais novo, Benki, é agente florestal e é quem dirige o Centro Yorenka Ãtame.
O Centro realiza um trabalho de orientação para uma vida sustentável por meio de diversas oficinas, entre elas, a que ensina a prática do reflorestamento em áreas degradadas usando o sistema agroflorestal tradicional utilizado por antepassados dos Ashaninkas. Além disso, o Centro é, também, um Ponto de Cultura.
O Ministério da Cultura, para facilitar a inclusão de povos indígenas no processo de editais, inaugurou a inscrição oral. Como Ponto de Cultura, o projeto recebe infra-estrutura e verba para que a comunidade faça vídeos, trabalhe e se capacite para a preservação da sua história, da sua identidade e da sua língua.
O ministro Juca Ferreira e sua comitiva conheceram as instalações do Centro Yorenka Ãtame assim que chegaram ao local, cujas casas são todas inspiradas na arquitetura Ashaninka.
Roda de conversa
Depois de conhecerem onde ficam os equipamentos disponibilizados pelo MinC, a sala de aula onde alunos aprendem a língua aruak e o refeitório, Juca Ferreira e sua comitiva foram convidados para uma roda de conversa numa espécie de praça que abriga muitos bancos de madeira e apresenta um desenho inspirado nas estrelas.
Benki agradeceu muito a presença do ministro da Cultura e se disse especialmente emocionado com a concretização do sonho de construir o Centro da Cultura da Floresta. “Este local representa a diversidade e estou muito feliz em tê-lo aqui, para conhecer esse nosso sonho”, disse.
Seu irmão, Francisco, aproveitou para contar um pouco a história de seu povo: “Até 1992, nós éramos nômades e não tínhamos o ordenamento territorial que temos hoje. Precisamos aprender a olhar de novo para a nossa terra, para as suas condições, e a cuidar dela”, disse. “Também precisamos olhar para a nossa identidade, que estava enfraquecida. E, depois, reconhecer a importância de estabelecer novos laços com quem vivia à nossa volta”, concluiu. Segundo ele, somente depois de passar por esse processo, o povo Ashaninka conseguiu mostrar que sua intenção não era a de impor a cultura deles, mas de estimular um ambiente de convivência harmonioso e de diálogo de saberes diversos.
Juca Ferreira lembrou que, assim como eles precisaram aprender uma série de coisas para chegar onde estiveram, ele também considera importante que um ministro faça contato diretamente com povos e situações diversas, para realmente compreender o que se passa e como fazer funcionar ações e políticas públicas. “Temos procurado ouvir o Brasil inteiro, na medida do possível. O projeto de vocês é muito importante, e o MinC não só irá ouvi-los e ajudá-los, como também acompanhará todo o processo de construção do Centro da Cultura da Floresta”, afirmou. “Se precisarem de mais coisas, estaremos aqui. Vocês estão passando por um processo de busca de identidade e de valorização de sua cultura que é interessante para todo o país. Esta é apenas uma semente que está sendo plantada. Problemas existem e existirão, mas eu desejo profundamente que vocês consigam resolver todos que apareçam pela frente”.
A conversa contou com a presença da comunidade de Marechal Thaumaturgo, inclusive representantes da prefeitura do município, como a chefe do departamento de Cultura, Ana Maria Lima, que entregou uma carta ao ministro da Cultura com o pedido de alocação de recursos financeiros e técnicos para a construção e implementação do Museu dos Povos da Floresta do Alto Juruá. Segundo Ana Lima, ele terá como objetivo promover o resgate histórico e sócio-cultural do povo local (índios e não índios) do município.
Também entregou uma carta a Juca Ferreira a Associação do povo indígena Jaminawa-Arara, com o pedido de apoio para a construção do Centro Pêshê Shãwãdawa, na Terra Indígena Jaminawa-Arara, do Rio Bagé.
A comitiva do MinC ficou hospedada em uma pousada localizada no Centro Yorenka Ãtame, construída para abrigar índios e não-índios que queiram participar das oficinas e desse processo de diálogo e aprendizado entre culturas diversas.

Encontro com ministro Juca Ferreira e Afirmação do projeto Pushê shãwãdawa

Especial - Cultura Indígena 2
Centro Yorenka Ãtame, concretização do sonho de um Ashaninka
No primeiro dia de estadia no Acre, logo após a solenidade de lançamento oficial do Centro da Cultura da Floresta, no Palácio Rio Branco, a comitiva do Ministério da Cultura seguiu para o pequeno município de Marechal Thaumaturgo, onde fica o Centro Yorenka Ãtame.
O ministro Juca Ferreira viajou a convite da família Pyanko, da comunidade dos Ashaninkas: os irmãos Francisco, Benki, Isaac e Moysés. Após almoço em Rio Branco, a comitiva voou por duas horas e meia até a cidade e, para chegar à comunidade, seguiu até a margem direita do rio Juruá em pequenos barcos.
O Centro Yorenka Ãtame, que também abrigará as futuras instalações do Centro da Cultura da Floresta, foi inaugurado em 2007. Sua criação se deve a uma “visão” que Samuel Pyanko, o já falecido avô dos anfitriões, teve quando eles ainda nem eram nascidos. Desse “sonho” ele entendeu a necessidade de unir índios e não-índios para lutar pela preservação daquele que é um grande bem comum a todos: a floresta amazônica.
Na década de 70, a luta entre seringueiros e índios era, literalmente, sangrenta. Os seringueiros tinham interesse nas terras e nos conhecimentos dos indígenas, e esses, por sua vez, não compreendiam as intenções dos brancos, justamente porque não conseguiam compreender sua cultura. Foi então que Samuel casou um de seus filhos, Antônio, com uma filha de seringueiros, Francisca Oliveira da Silva, mais conhecida como Dona Piti. Dessa forma, ela ajudaria a comunidade Ashaninka a entender a cultura do homem branco, para, então, começar um diálogo entre os povos.
Francisca, que teve sete filhos com Antônio – Francisco, Moysés, Isaac, Benki, Bebito, Dora e Alexandrina –, passou a sentir na pele o sofrimento de sua família. Ela ensinou a língua portuguesa aos filhos e, junto ao sogro e ao marido, orientou todos para o cumprimento dessa missão. Francisco, o mais velho, aos 12 anos já começou a negociar e penetrar o universo e a cultura dos não-índios. Hoje ele vive em Rio Branco e trabalha para o Governo do Estado do Acre como secretário para assuntos indígenas. Seu irmão mais novo, Benki, é agente florestal e é quem dirige o Centro Yorenka Ãtame.
O Centro realiza um trabalho de orientação para uma vida sustentável por meio de diversas oficinas, entre elas, a que ensina a prática do reflorestamento em áreas degradadas usando o sistema agroflorestal tradicional utilizado por antepassados dos Ashaninkas. Além disso, o Centro é, também, um Ponto de Cultura.
O Ministério da Cultura, para facilitar a inclusão de povos indígenas no processo de editais, inaugurou a inscrição oral. Como Ponto de Cultura, o projeto recebe infra-estrutura e verba para que a comunidade faça vídeos, trabalhe e se capacite para a preservação da sua história, da sua identidade e da sua língua.
O ministro Juca Ferreira e sua comitiva conheceram as instalações do Centro Yorenka Ãtame assim que chegaram ao local, cujas casas são todas inspiradas na arquitetura Ashaninka.
Roda de conversa
Depois de conhecerem onde ficam os equipamentos disponibilizados pelo MinC, a sala de aula onde alunos aprendem a língua aruak e o refeitório, Juca Ferreira e sua comitiva foram convidados para uma roda de conversa numa espécie de praça que abriga muitos bancos de madeira e apresenta um desenho inspirado nas estrelas.
Benki agradeceu muito a presença do ministro da Cultura e se disse especialmente emocionado com a concretização do sonho de construir o Centro da Cultura da Floresta. “Este local representa a diversidade e estou muito feliz em tê-lo aqui, para conhecer esse nosso sonho”, disse.
Seu irmão, Francisco, aproveitou para contar um pouco a história de seu povo: “Até 1992, nós éramos nômades e não tínhamos o ordenamento territorial que temos hoje. Precisamos aprender a olhar de novo para a nossa terra, para as suas condições, e a cuidar dela”, disse. “Também precisamos olhar para a nossa identidade, que estava enfraquecida. E, depois, reconhecer a importância de estabelecer novos laços com quem vivia à nossa volta”, concluiu. Segundo ele, somente depois de passar por esse processo, o povo Ashaninka conseguiu mostrar que sua intenção não era a de impor a cultura deles, mas de estimular um ambiente de convivência harmonioso e de diálogo de saberes diversos.
Juca Ferreira lembrou que, assim como eles precisaram aprender uma série de coisas para chegar onde estiveram, ele também considera importante que um ministro faça contato diretamente com povos e situações diversas, para realmente compreender o que se passa e como fazer funcionar ações e políticas públicas. “Temos procurado ouvir o Brasil inteiro, na medida do possível. O projeto de vocês é muito importante, e o MinC não só irá ouvi-los e ajudá-los, como também acompanhará todo o processo de construção do Centro da Cultura da Floresta”, afirmou. “Se precisarem de mais coisas, estaremos aqui. Vocês estão passando por um processo de busca de identidade e de valorização de sua cultura que é interessante para todo o país. Esta é apenas uma semente que está sendo plantada. Problemas existem e existirão, mas eu desejo profundamente que vocês consigam resolver todos que apareçam pela frente”.
A conversa contou com a presença da comunidade de Marechal Thaumaturgo, inclusive representantes da prefeitura do município, como a chefe do departamento de Cultura, Ana Maria Lima, que entregou uma carta ao ministro da Cultura com o pedido de alocação de recursos financeiros e técnicos para a construção e implementação do Museu dos Povos da Floresta do Alto Juruá. Segundo Ana Lima, ele terá como objetivo promover o resgate histórico e sócio-cultural do povo local (índios e não índios) do município.
Também entregou uma carta a Juca Ferreira a Associação do povo indígena Jaminawa-Arara, com o pedido de apoio para a construção do Centro Pêshê Shãwãdawa, na Terra Indígena Jaminawa-Arara, do Rio Bagé.
A comitiva do MinC ficou hospedada em uma pousada localizada no Centro Yorenka Ãtame, construída para abrigar índios e não-índios que queiram participar das oficinas e desse processo de diálogo e aprendizado entre culturas diversas.